Por Miguel Jorge
Paixão, absurdidade, a calda de um cão como idioma,
e amanhecem as horas – soberbas – como se houvesse
qualquer instante de sentido ou gravidade no passar.
Na genealogia das janelas encontramos olhos, talvez,
percepções de estéticas, discordância entre as entidades
nomeadas e inominadas, mas no afã de essencialidade.
E tudo se resume a um passo de uma calçada ou uma
rua, temas e variações de histórias e sentidos particulares,
cujo temor ou alumbramento do rosto o tempo consome.
Tudo que nos importa queda didático no resumo da casa,
no estático reside o movimento que elegemos como signo,
e nossa curiosidade por estarmos contidos fora de um peito.
Dentre tantos lances de olhares, o que contempla a mesma
direção ainda que oposta, tem as mesmas cores, entrevê
o sentimento como uma iluminura de Jasper Johns monocor.
Dentre tantos teoremas o que nos resvala a alma, elide tanto
curvas de crescimento, previsões, torções de percentual, riscos;
ante a sugestão do que se não tange nem com a pele da razão.
Não sentir enquanto se tem uma face, das maiores covardias,
não lançar-se no profundo quando é estranha tal face: medo,
não admitir-se extenso como o que nasceu para ser completado.
E a extensão desta substância se calcula pelo que não ocupa,
e o nomeá-la é pressentir uma falta que não se fez conhecida;
palavras que se ligam sem cordas e que por isso não se soltam.
Tudo que funciona como alegoria de uma realidade acaba sendo
parte integrante ou âmago da coisa representada: lição do afeto
que plasmou a presença da pessoa amada para não sentir a falta.
E o passear por relicários será sobretudo, metáfora da opacidade:
ou ambição extrema de ter a sensibilidade do tempo sob o ser,
encuanto extrañas luces en una lejana estrella desatan especulaciones.