
Por Anônimo da FDRP
Há algum tempo atrás – talvez nem tanto tempo assim, mas 2020 tem esse poder temporal destrutivo – eu observava muitas postagens com a hashtag “gratidão”. Discreto como sou (eufemismo para sisudo), achava uma grande bobagem, uma nova e velha forma de compartilhar narcisisticamente a vida nas redes sociais.
Daí veio 2020, a quarentena, e algumas mudanças. Li recentemente, a seguinte manchete: “Vale a pena viver: quem era o paciente que viveu por 51 anos em hospital”. Sim, existiu um homem (Paulo Henrique Machado) que viveu praticamente toda a sua vida no HC da USP em São Paulo devido à poliomielite que contraiu quando bebê em 1969, cujas sequelas foram devastadoras. E eu (e muita gente) reclamando de ficar em casa nessa quarentena, desanimado por estudar ou trabalhar virtualmente! Quando vivemos muito tempo de barriga cheia, o tapa na cara que recebemos da nossa consciência é bem mais forte (exceto para quem já se conformou com a sua mesquinharia moral, neste caso, sua consciência não bate, assopra).
“Vale a pena viver” era o mote de Paulo, um homem que tinha todo o direito de revoltar-se contra tudo e contra todos – homens e Deus. Mas preferiu apegar-se à vida e tudo de bom que ela poderia oferecer a ele, aprendendo informática e programação para criar uma série animada voltada ao público infantil, com temática da deficiência física. Também era youtuber.
Desculpe Paulo, só conheci você por meio dessa manchete. Precisei de você para aprender a ressignificar conceitos como “viver bem” e “gratidão”. Sei que essa quarentena vai terminar um dia, e quando me acostumar novamente mais ao lado de fora do que ao de dentro, saiba que você estará lá comigo.
Para quem leu até aqui e conheceu o Paulo comigo, #gratidão